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Foto do escritorPaulo Markun

Velhos difundem mais fake news que jovens, dizem pesquisadores norte-americanos

Atualizado: 18 de jun. de 2023

Dois psicólogos da Universidade de Harvard concluíram que os velhos difundem as chamadas fake news com mais facilidade que outras faixas etárias, não apenas por conta do declínio mental que costuma acompanhar o envelhecimento, mas também por cuasa do isolamento social e da pouca intimidade com o mundo digital.

Nadia Brashier é pós-doutoranda em psicologia na Universidade de Harvard, Daniel Schacter é professor de psicologia na Universidade de Harvard. Ambos veicularam sua pesquisa no Current Directions in Psychological Science, a segunda publicação mais antiga da Association for Psychological Science e depois reverberaram o tema num artigo para o jornal Los Angeles Times.

A dupla lembra que falsidades têm 70% mais probabilidade de serem retuitadas do que a verdade. E que quanto mais velho o internauta, maior o envolvimento com as notícias falsas. Durante a campanha presidencial de 2016, os usuários do Facebook com mais de 65 anos compartilharam quase sete vezes mais artigos de sites de notícias falsos do que os usuários jovens. Embora normalmente esse fato seja vinculado ao declínio cognitivo, Brashier e Schacter concluíram que os adultos mais velhos espalhar desinformação por outros motivos.

A memória episódica - atinge o pico por volta dos 20 e 30 anos e depois diminui e em consequência, os mais velhos podem esquecer de detalhes contextuais, pouco importando, por exemplo, se uma história foi publicada pelo Wall Street Journal ou pelo Daily Buzz Live (um site de notícias falsas).

Mas os psicólogos ressaltam que nem tudo decai com a idade e atestam que jovens e velhos acreditam nas afirmações repetidas porque se sentem “fluentes” ou fáceis de entender. “Repetir uma manchete falsa várias vezes na internet ” – alertam - “cria uma ‘ilusão da verdade” que pode enganar tanto os adultos jovens quanto os mais velhos”.

Há ainda processos cognitivos que melhoram com a idade e que poderiam neutralizar essas vulnerabilidades. “Os adultos mais velhos acumulam uma vida inteira de conhecimento sobre o mundo, o que pode protegê-los da desinformação. Repetir declarações falsas como ‘o animal terrestre mais rápido é o leopardo’, pode enganar os adultos jovens, mas não os mais velhos. Eles se apegam ao que sabem e, se houver, podem discernir melhor as manchetes reais das falsas fora de um ambiente de mídia social.”

Outra possibilidade seria a de que a facilidade de difundir fake news por causa do isolamento dos idosos, que contribuiria para promover o compartilhamento online. Mas os dois psicológicos ressaltam que adultos mais velhos não são a faixa etária mais solitária e que os picos de solidão ocorrem no final dos vinte anos, em meado dos cinquenta e no fim dos oitenta anos.

O problema é que embora a confiança geral aumente com a idade, a capacidade de detectar mentirosos diminui. “Os adultos mais velhos também priorizam objetivos interpessoais, como entreter o público, em detrimento da precisão ao transmitir informações. Combinadas, essas mudanças sociais podem aumentar o apelo de conteúdo falso, especialmente entre os adultos mais velhos que são novos na internet.”

Os números são claros: há dez anos, apenas 8% dos americanos com mais de 65 anos usavam um site de mídia social. Hoje, esse número chega a 40%. “Esses usuários mais velhos provavelmente têm menos experiência com conteúdo sensacionalista. Eles também tendem a misturar anúncios nativos, projetados para parecerem histórias “reais”, com artigos de notícias e não conseguem detectar imagens manipuladas.”

Quanto mais sofisticadas são as técnicas dos produtores de fake news, pior fica a situação. Mas os dois psicólogos dizem que há maneiras dos mais velhos reduzirem a influência social e preencherem as lacunas de sua alfabetização digital. “Eles precisam exercer ceticismo, mesmo quando as notícias vêm de um amigo de confiança. Eles também podem se proteger fazendo cursos gratuitos de avaliação de notícias e aprendendo o básico das mídias sociais. Mas antes antes de tomar medidas proativas, os adultos mais velhos precisam estar cientes de que esse é um problema sério”.

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