Uma nova pesquisa encontrou pontos de contato entre a enxaqueca e a demência e concluiu que essa dor de cabeça pulsátil e latejante que acomete 15% da população brasileira é quatro vezes mais frequente entre os portadores do mal de Alzheimer do que em idosos saudáveis. Suzanne L. Tyas, Ph.D., da Universidade de Waterloo, em Ontário, Canadá.
Tyas e seus colegas estudaram 679 pacientes com 65 anos ou mais dentro de um estudo amplo de saúde e a seleção envolveu apenas os que estavam "cognitivamente intactos" na linha de base. Os resultados foram publicados no International Journal of Geriatric Psychiatry.
A partir do histórico de enxaqueca dos participantes, os cientistas avaliaram as associações entre esse mal e outros fatores, como idade, sexo, educação e histórico de depressão, associando os resultados a vários tipos de demência, entre elas o Alzheimer.
A análise revelou associações significativas mesmo após o ajuste das variáveis que podiam conturbar os resultados. As chances de ter enxaqueca eram quase três vezes maiores em pessoas com demência do que naquelas sem demência. No caso dos portadores do mal de Alzheimer, a prevalência era ainda maior: quatro vezes. O estudo não encontrou associação com demência vascular.
Setembro é o Mês Mundial do Alzheimer e para desmistificar a demência e fazer com que as pessoas falem sobre o assunto, ainda tabu, a Organização Pan-Americana de Saúde e a Alzheimer's Disease International lançaram a campanha Let's Talk About Dementia.
O Alzheimer, uma das formas mais populares e temidas da demência ainda não tem cura, mas é possível retardar o aparecimento de seus sintomas em até 35% dos casos. Existem fatores de risco conhecidos e modificáveis e passam da educação infantil à atividade física, incluindo hipertensão, obesidade, diabetes, tabagismo e isolamento social, entre outros.
A vida dos pacientes e de suas famílias pode melhor com o diagnóstico precoce e atendimento adequado. Se não há cura, pode haver alívio dos sintomas neuro-psiquiátricos associados, reduzindo crises, tratando os sintomas cognitivos quando possível. A Lancet, uma das mais respeitadas publicações científicas do mundo está preparando um dossiê sobre o assunto para 2020, reunindo as comprovações de que muita demência pode ser evitada.
Os números são impactantes: a cada 3 segundos alguém desenvolve demência no mundo, o que implica em mais de 9,9 milhões de novos casos a cada ano. Atualmente, há cerca de 50 milhões de pessoas vivendo com demência no mundo, e esse índice deve triplicar até 2050, se não forem adotadas estratégias efetivas de redução de risco.
Para Carissa F. Etienne, diretora da OPAS, o primeiro passo para enfrentar o estigma em torno da demência é estar aberto a conversar. “A falta de conhecimento sobre a demência e como uma pessoa afetada pode se comportar levou ao estigma associado à doença. Esta campanha se concentrará em aumentar as conversas sobre a demência em todos os lugares, já que conversar é frequentemente o primeiro passo para conscientizar, entender e quebrar barreiras ao diagnóstico e atendimento”.
No próximo dia 21, dia Mundial da Doença de Alzheimer, a ADI lançará o Relatório Mundial sobre Alzheimer, que aborda as atitudes globais em relação à demência, com base em uma pesquisa com quase 70 mil pessoas em 155 países. Uma das principais conclusões dessa pesquisa mostra que 95% dos entrevistados acreditam que desenvolverão demência durante a vida.
A demência é uma síndrome que afeta a memória, outras habilidades cognitivas e comportamentos que interferem significativamente na capacidade de uma pessoa de manter suas atividades cotidianas. Embora a idade seja o fator de risco mais forte conhecido para a demência, a condição não é uma parte normal do envelhecimento. A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência. As mortes devido à demência mais que dobraram entre os anos 2000 e 2016, tornando-a a quinta principal causa de morte global em 2016, em comparação com o 14º lugar em 2000.
A cada dia, os cientistas avançam mais um pouco no entendimento da demência. Numa conferência realizada em julho, eles resumiram em cinco pontos as iniciativas que podem reduzir a probabilidade de demência:
- Fazer pelo menos 150 minutos de atividade moderada a vigorosa por semana - Não fumar - Limitar o consumo de álcool a uma dose por dia. - Exercitar o cérebro, com palavras cruzadas, quebra-cabeças ou outras tarefas do tipo. - Manter uma boa dieta, com legumes, nozes, frutas, feijões, grãos integrais, frutos do mar, aves e azeite de oliva, evitando bolos, doces, frituras e muita carne vermelha ou gorduras saturadas.
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