Uma nova pesquisa científica que acaba de ser publicada no Annals of Internal Medicine, reiterou os alertas já apresentados no final do ano passado sobre os riscos do uso indiscriminado e preventivo da aspirina por idosos que não tem recomendação médica expressa, relacionada a problemas cardíacos.
A partir de dados da Pesquisa Nacional de Entrevistas de Saúde de 2017, a equipe do Beth Israel Deaconess Medical Center constatou que quase metade dos americanos adultos com 70 anos ou mais, sem história de doença cardíaca ou acidente vascular cerebral, tomam aspirina diariamente, contra as diretrizes atuais da American Heart Association e do American College of Cardiology. Esses idosos estão aumentando o risco de sofrerem sangramentos graves, sem nenhuma razão.
Isso não significa uma condenação expressa ao uso preventivo da aspirina, que segue recomendada para quem teve um derrame ou um ataque cardíaco, bem como para pacientes com pressão alta, diabetes, colesterol alto ou stents coronários. Em todos os casos, vale a indicação de respeitar a recomendação médica, que por sua vez, precisa pesar riscos e benefícios.
No ano passado, pesquisadores do Kings College London e do Kings College Hospital, na Inglaterra, revisaram 13 estudos clínicos com 164 mil participantes que analisavam o potencial preventivo da aspirina e concluíram que enquanto o uso do comprimido está associado a uma redução de 11% no risco de eventos cardiovasculares (morte, infarto não letal e derrame não letal), ele também relaciona-se a um aumento de 47% de casos de sangramento. Os autores alertam para o fato de que não foi possível estabelecer uma relação de causa e efeito mais específica e que por isso, o medicamento como método de prevenção tem de ser bem discutida entre médicos e pacientes.
No caso da diabetes mellitus, um estudo randômico com 15.480 participantes, acompanhados por 7,4 anos em média comprovou que os pacientes que tomaram aspirina tiveram menos eventos vasculares graves do que os que receberam placebo (8,5% contra 9,65), ao passo que os eventos hemorrágicos maiores se deram em 4,1% dos que receberam aspirina contra 3,2% entre os usuários de placebo. Não houve diferença significativa na incidência de câncer, entre os dois grupos. Conclusão: o uso de aspirina preveniu eventos vasculares graves em pessoas que tinham diabetes e nenhuma doença cardiovascular evidente na entrada do estudo, mas também causou grandes eventos hemorrágicos. Os benefícios absolutos foram amplamente contrabalançados pelo risco de sangramento.
O princípio ativo da aspirina é um velho conhecido da humanidade. Em 1534 antes de Cristo, o Papiro de Ebers, hoje em exibição na Universidade de Leipzig, destacava ser possível controlar os sintomas da malária com um tônico feito a partir da casca do salgueiro, do gênero salix. Em 1894, o químico alemão Felix Hoffman conseguiu sintetizr seu princípio ativo ao procurar uma alternativa ao ácido salicílico que fosse melhor tolerada pelos doentes, pois o seu pai sofria de reumatismo crónico que combatia diariamente com ácido salicílico, o que lhe causava sérios problemas de estômago e um desagradável sabor na boca.
Assim surgiu o AAS, eficaz no combate às dores, à inflamação e à febre, mas com um sabor menos amargo e melhor tolerado pelo estômago. Foi o primeiro composto sintetizado em laboratório e o primeiro medicamento a ser vendido em comprimidos. Dois anos depois da sua descoberta, o AAS foi lançado no mercado alemão sob a marca registada de Aspirina que, em 1950, apareceu no livro de recordes do Guinness, como o analgésico mais vendido do mundo. Em 1969, foi levada na viagem à Lua na caixa de primeiros socorros dos astronautas Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins. Pouco depois, com a identificação de seu mecanismo de ação, passou a ser recomendado para prevenir doenças cardiovasculares.
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