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Vale o escrito?

Todo mês gasto um tempinho maquinando o assunto que devo – ou posso – abordar aqui. Se não sou capaz de fazer um tratado,  nem pretendo produzir uma grande bobagem, preciso dar tratos à bola. Dessa vez, a ideia me alcançou na esteira, depois de uma traumática passagem pela balança e da confirmação de que ela não fora silenciosa e maquiavelicamente desregulada entre o Natal e o Ano Novo. Correndo, literalmente, contra o relógio, pensei nos atletas que se preparam para brilhar ou fracassar em Londres entre 27 de julho e 12 de agosto – e mais ainda com os que já se preparam para o Rio, em 2016. Todos enfrentando calvários piores que o meu, diariamente.

Certo, eles tem de suar a camisa, mas em condições melhores que seus antecessores. Agora, em Londres,  nosso pessoal poderá se aclimatar no Centro Esportivo Nacional do Crystal Palace, que fica a 13 quilômetros do centro, no meio de um parque enorme e a poucos metros do hotel onde a delegação vai se hospedar.

Bem diferente da Olimpíada de Los Angeles, há 80 anos, quando os atletas viajaram a bordo do Itaquicê e tinham uma cota de café para vender no percurso, para pagar parte das despesas.

Naqueles jogos, o fundista brasileiro Adalberto Cardoso entrou para a história. Na prova de classificação, tinha desmaiado ao cruzar a linha de chegada. Não pode desce em Los Angeles porque a nossa delegação não tinha um dólar para pagar por atleta no porto e os cartolas privilegiaram quem tinha alguma chance. Adalberto desembarcou clandestinamente em San Francisco (não havia cumprido sua cota de venda de café) e percorreu os 600 quilômetros até a sede dos jogos em 24 horas, correndo um pouco, de carona outro tanto. Chegou ao estádio dez minutos antes do tiro de largada. Vestiu o uniforme e correu descalço os dez quilômetros da prova, sempre em último. Enquanto isso, o locutor propalou sua história pelo microfone e no final, a plateia desandou em aplausos ao nosso (literalmente) Iron Man. A mesma Olimpíada rendeu o filme Carruagens de Fogo (sem Adalberto), mas, bem, é o que dá ter uma indústria cinematográfica competente.

Avançamos muito nessas oito décadas.  Nada impede que as Olimpíadas do Rio de Janeiro sejam um sucesso, daqui a quatro  anos. Ok, há muitos problemas e pontos de interrogação. Uma juíza do Rio suspendeu as obras do Parque Olímpico até que seja resolvida a situação de 900 pessoas que vivem “na Vila Autódromo – e com a desocupação de Pinheirinho nas manchetes, seria bom encontrar uma solução para o problema. 

Depois dessa no cravo, uma na ferradura: a prefeitura do Rio de Janeiro e a Infraero acabam de instalar um sistema para acabar com a máfia de taxistas no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. São câmeras que vão monitorar as vias de acesso ao desembarque, para identificar – e punir – os taxistas que abordam os passageiros e depois cobram mais que a tabela. Avanço pequeno, mas sempre ajuda, certo?

Há muito a fazer ainda, mas a realidade já não comporta (espero) o tipo de antevisão  que perpetrei num jornal já falecido, em setembro de 1988, diante da hipótese dos Jogos de 1996 serem na nossa terrinha:

Olimpíada acaba em samba

Claro que houve dificuldades. O Comitê Olímpico Internacional resistiu o quanto pode, o PT obstruiu a aprovação do orçamento e até o FMI meteu a sua colher – argumentos que o único recorde a ser quebrado seria o da dívida externa.

Mas o fato é que as Olimpíadas de 1996 acabaram mesmo acontecendo no Brasil. Mais, exatamente, no Rio de Janeiro, que ficou com a sede dos jogos, apesar da pressão de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Brasília e até Goiânia, correndo por fora com um slogan original: as primeiras Olimpíadas movidas a energia nuclear !

Não foram só esses os problemas. Difícil mesmo foi convencer o presidente Newton Cardoso de que não podia carregar a tocha olímpica, na hora de entrar no estádio olímpico de Jacarepaguá, e acender a pira. O presidente explicou que sempre foi um esportista, subiu na balança para comprovar que estava fazendo dieta e deixou-se fotografar de calção, correndo diante do Palácio do Planalto, mas foi em vão. Quem levou a tocha foi o corredor Paulo Maluf, que depois de perder as eleições para prefeito de São Paulo, presidente da República e governador tinha descoberto finalmente sua vocação – maratonista.

Mas o fato é que o grande dia chegou, Atletas do mundo todo a postos, televisões e jornalistas por todo lado, aguardando a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. A primeira tarefa foi afastar os cambistas, que haviam comprado todos os ingressos e tentavam revendê-los a peso de dólar. Mas, enfim, estavam todos dentro do estádio. Milhares de estudantes do segundo grau das escolas públicas do Rio e de Minas (adivinhem por que) devidamente ensaiados e vestidos de verde e amarelo ocuparam o gramado.

E aos acordes de “O Guarani”, começou a festa. Bem, festa, no caso, é otimismo do autor. Porque a única coisa que faltou foi sincronia. Enquanto as meninas levantavam os braços para um lado, os meninos se mexiam para o outro. O grupo de Minas correu a formar um nome – N.....E.....W....., mas não terminaram a obra. Um punhado de estudantes do Movimento Leonel Brizola entrou em ação e foi sopapo pra todo lado.

O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Ulysses Guimarães, mandou, então, que o show aéreo começasse. Três pára-quedistas tiveram problemas com seus equipamentos e por pouco não transformaram a festa numa tragédia.

Na platéia, a coisa ia mal também. Além das escaramuças entre brizolistas e cardosistas, um grupo de verdes aproveitou a confusão para abrir faixas no meio da multidão, pedindo a preservação da Mata Atlântica, a interrupção das obras da usina nuclear de Campos de Jordão.

Na função de animador geral da festa, o governador Sílvio Santos fez o que pode. Chamou às falas as suas colegas de trabalho, pediu os comerciais, mas acabou entregando os pontos.

Foi o presidente da República quem salvou a pátria: “Tá bom, chega de amadorismo ! Manda entrar a bateria da Mocidade Independente, as baianas da Mangueira e as mulheres da Beija Flor !”

 

VAI TREINANDO

O Comitê Olímpico Brasileiro acaba de divulgar os locais de treinamento de nossos atletas para 2016. Só aqui em Santa Catarina, serão duas dezenas.  Quatro em Balneário Camboriú, três em Blumenau, um em Brusque, outro em Palhoça e sete em Floripa. Como os Jogos estão acima das torcidas e  desavenças, vai ter treino na UFSC e na Unisul, no Figueira e no Avaí. E uns sortudos poderão se preparar no Costão do Santinho. Adalberto Cardoso deve estar pensando porque nasceu antes do tempo...

 

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