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Olimpíada acaba em samba

19 de set. de 1988

Veículo: Folha da Tarde
Coluna: Parem as rotativas

Claro que houve dificuldades. O Comitê Olímpico Internacional resistiu o quanto pode, o PT obstruiu a aprovação do orçamento e até o FMI meteu a sua colher – argumentos que o único recorde a ser quebrado seria o da dívida externa.

Mas o fato é que as Olimpíadas de 1996 acabaram mesmo acontecendo no Brasil. Mais, exatamente, no Rio de Janeiro, que ficou com a sede dos jogos, apesar da pressão de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Brasília e até Goiânia, correndo por fora com um slogan original: as primeiras Olimpíadas movidas a energia nuclear !

Não foram só esses os problemas. Difícil mesmo foi convencer o presidente Newton Cardoso de que não podia carregar a tocha olímpica, na hora de entrar no estádio olímpico de Jacarepaguá, e acender a pira. O presidente explicou que sempre foi um esportista, subiu na balança para comprovar que estava fazendo dieta e deixou-se fotografar de calção, correndo diante do Palácio do Planalto, mas foi em vão. Quem levou a tocha foi o corredor Paulo Maluf, que depois de perder as eleições para prefeito de São Paulo, presidente da República e governador tinha descoberto finalmente sua vocação – maratonista.

Mas o fato é que o grande dia chegou, Atletas do mundo todo a postos, televisões e jornalistas por todo lado, aguardando a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. A primeira tarefa foi afastar os cambistas, que haviam comprado todos os ingressos e tentavam revendê-los a peso de dólar. Mas, enfim, estavam todos dentro do estádio. Milhares de estudantes do segundo grau das escolas públicas do Rio e de Minas (advinhem por que) devidamente ensaiados e vestidos de verde e amarelo ocuparam o gramado.

E aos acordes de “O Guarani”, começou a festa. Bem, festa, no caso, é otimismo do autor. Porque a única coisa que faltou foi sincronia. Enquanto as meninas levantavam os braços para um lado, os meninos se mexiam para o outro. O grupo de Minas correu a formar um nome – N.....E.....W....., mas não terminaram a obra. Um punhado de estudantes do Movimento Leonel Brizola entrou em ação e foi sopapo pra todo lado.

O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Ulysses Guimarães, mandou, então, que o show aéreo começasse. Três pára-quedistas tiveram problemas com seus equipamentos e por pouco não transformaram a festa numa tragédia.

Na platéia, a coisa ia mal também. Além das escaramuças entre brizolistas e cardosistas, um grupo de verdes aproveitou a confusão para abrir faixas no meio da multidão, pedindo a preservação da Mata Atlântica, a interrupção das obras da usina nuclear de Campos de Jordão.

Na função de animador geral da festa, o governador Sílvio Santos fez o que pode. Chamou às falas as suas colegas de trabalho, pediu os comerciais, mas acabou entregando os pontos.

Foi o presidente da República quem salvou a pátria: “Tá bom, chega de amadorismo ! Manda entrar a bateria da Mocidade Independente, as baianas da Mangueira e as mulheres da Beija Flor!”

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