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Montoro X Brizola, uma luta-exibição

14 de mar. de 1988

Veículo: Folha da Tarde
Coluna: Parem as rotativas

Fui ver de perto o debate entre Franco Montoro e Leonel Brizola. Já foi dito que esses debates parecem lutas de boxe, dessas válidas pelo título mundial, onde, a cada intervalo, os segundos invadem o tablado, cercam os contendores e tentam, sem sucesso, mudar o resultado. (Segundo nenhum ganha luta, como se sabe. Mas muito favorito já perdeu o título para desafiante sem chances no ringue eletrônico da televisão).

Só que o embate Brizola-Montoro foi diferente. Não valia o título – era uma luta-exibição e os dois atletas tinha lá seus problemas. Um precisa ainda adquirir a condição de desafiante na versão AMB, ou melhor, PMDB. O outro, eterno candidato ao cinturão, lutou de olhos nos jurados, já que uma parte dos quais, devidamente uniformizada, dava sinais de que poderá suspender a luta de verdade, caso o boxeador em questão vença o adversário. É como se o nosso Maguila tivesse de disputar o título com um lutador de bom nível, e o Mike Tyson estivesse no ginásio, de calção e luvas, pronto para pular as cordas e  transformar o espetáculo numa australiana daquelas em que o mocinho apanha de verdade.

Na verdade, o debate foi mais do que uma luta-exibição. Parecia aquela briga entre o Muhamad Ali e um campeão de luta-livre, que se não falha a memória, chamava-se Antônio Inoki. Só não me peçam para explicar quem era um, quem era outro. Não digo nem amarrado!

Nas vinte linhas acima, desrespeitei uma regra que aprendi no dia-a-dia das redações, no tempo em que comecei em jornal, há uns 17 anos: não usar a primeira pessoa do singular, nem incluir considerações de ordem pessoal, meros palpites ou íntimas elucubrações nos textos. Isso, na época em que muito coleguinha chamava hospital de nosocômio, secretário de titular da pasta e aplicava um aduziu no lugar de acrescentou.

Mas o tempo passa, como diria o Fiori Gigliotti. Não faz muito tempo, fui a uma entrevista coletiva e percebi que estava sentado na fila dos veteranos, ao lado de Clóvis Rossi, Enio Pesce e Hermano Alves. Quer dizer, passei de foca a “tarimbado” sem ter tido a chance de escrever o que bem entendesse, do jeito que quisesse – sendo lido. Porque escrever o que lhe dá na telha, qualquer um pode. Colocar isso em letra de forma e em todas as bancas, são outros 500.

Agora, a Folha da Tarde me convida para ocupar esse espaço ao lado de feras como (por ordem alfabética) Alberto Dines, Carlos Brickmann, Jaguar, Mino Carla e Tarso de Castro. Só há uma determinação – 40 linhas, bem mais que Moisés precisou para nos impingir os dez mandamentos. E jogar em seleção, como essa, sempre pesa a camisa. Por isso, resolvi começar sobre a primeira pessoa. Não fosse assim e talvez modificasse ligeiramente o título da seção para afirmar: parem as rotativas, que eu quero descer ! (É brincadeira, Adilson).

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