top of page

Floripa neles!

4 de jun. de 1988

VeĆ­culo: Folha da Tarde
Coluna: Parem as rotativas

Brasileiro estĆ” sempre em busca da cartada decisiva, da jogada genial, da sacada brilhante. O nosso famoso jeitinho Ć© uma espĆ©cie de amostra grĆ”tis dessa fĆ³rmula milagrosa que termina sendo apenas um sonho e adia a alternativa mais concreta ā€“ e menos charmosa ā€“ do longo prazo. Suar a camisa, conquistar as coisas passo a passo, comeƧar do comeƧo, acumular pequenas vitĆ³rias, nada disso nos atrai ā€“ atĆ© pelo fato de que, em muitos casos, essa argumentaĆ§Ć£o empurra para um futuro inatingĆ­vel o que jĆ” deveria ser parte do presente.

Mas como nĆ£o adianta remar contra a marĆ©, apresento a soluĆ§Ć£o para a crise brasileira. Mudar a capital! Isso mesmo. Afinal, nĆ£o foram os anos JK, marcados pela mudanƧa da capital, o Ćŗltimo oĆ”sis de progresso, alegria e felicidade de que a naĆ§Ć£o desfrutou? Eu mesmo nĆ£o me lembro, mas, pelo que diz a revista ā€œMancheteā€, foi exatamente assim que aconteceu.

E depois que o poder se instalou em BrasĆ­lia, todos sabemos no que deu. HĆ” quem relacione os problemas atuais ā€“ corrupĆ§Ć£o, favorecimento, mordomias, negociatas, manobras de bastidores, plenĆ”rios vazios que sĆ³ se enchem para adiar as eleiƧƵes ā€“ com o clima de BrasĆ­lia. Alguma coisa no ar puro do Planalto Central, onde d. Bosco imaginava o surgimento de uma nova civilizaĆ§Ć£o. Um misterioso ingrediente que transforma os gramados em manchas marrons, provoca sangramentos no nariz e, mais grave e nĆ£o menos freqĆ¼ente, amolece o carĆ”ter.

Mudemos, pois, a capital.

O ideal seria transferi-la aqui para SĆ£o Paulo. Economizaria muito a ponte aĆ©rea, nĆ£o seia preciso investir demais e ainda taparĆ­amos a boca dos cariocas, que trocariam Leblon e Ipanema pelo aeroporto de Congonhas nos fins de semana. Afinal, pudĆŖ Ć© pudĆŖ, seja qual for o sotaque. E ninguĆ©m zomba de quem controla a torneira da Seplan.

Mas o resto do paĆ­s jamais vai admitir essa soluĆ§Ć£o. Por isso, Ć© melhor irmos por partes. Primeira constataĆ§Ć£o: a nova capital nĆ£o pode ser longe de SĆ£o Paulo e, muito menos, ao norte do Rio. Se admitirmos essa hipĆ³tese, vĆ£o querer transformar SĆ£o LuĆ­s, ou pior ainda, Pinheiro em capital. E do jeito que as coisas andam em BrasĆ­lia, a proposta Ć© capaz de passar no Congresso. Por isso, a capital tem de ser no Sul.

Segundo ponto: capital que se preze tem de ter praia. Se nĆ£o for por outro motivo, para que nossos jornais e revistas possam publicar flagrantes do presidente e ministros jogando peteca, tomando sol ou pegando uma onda numa morey boggie. Ɖ a soluĆ§Ć£o para a primeira pĆ”gina de segunda-feira. Melhor que o Mailson andando de bicicleta com o filho. Depois, capital com praia facilita na hora de abrir concurso para preencher todos os cargos da administraĆ§Ć£o federal. E aĆ­ estĆ” o ovo de Colombo da minha proposta. Vamos transferir a capital de BrasĆ­lia para FlorianĆ³polis, que Ć© uma ilha, civilizada e tem 42 praias, todas lindĆ­ssimas. Mas com um pequeno e decisivo adendo: os atuais moradores de BrasĆ­lia, por pelo menos cinco anos ā€“ atĆ© para evitar que esse patrimĆ“nio da humanidade vire uma grande ruĆ­na. Os ocupantes da nova capital serĆ£o escolhidos em eleiƧƵes gerais e por concurso.

bottom of page