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Clubinho

Quem passa hoje pela esquina das ruas Bento Freitas e General Jardim, na Vila Buarque, centro de São Paulo, nem nota, mas ali no subsolo, sem que haja uma única referência visível está um pedaço importante da cultura e da história da cidade, que precisa ser preservado com urgência: o subsolo do prédio do Instituto de Arquitetos do Brasil, onde funcionou durante décadas, o  Clube dos Artistas e Amigos da Arte, mais conhecido como como Clubinho.

Criado em 1945, por um grupo de artistas, entre eles o pintor Rebolo, o Clubinho foi palco de reuniões intermináveis, encontros históricos, shows memoráveis e noitadas alegres que impulsionaram as artes plásticas, a arquitetura, a cultura e a política numa mistura viva de personalidades cuja lembrança precisa e pode ser recuperada, agora que o prédio do IAB foi tombado e que a Vila Buarque está incluída no projeto de recuperação do centro de São Paulo.

O cronista Antônio Maria registrou numa crônica um desses encontros memoráveis que só o Clubinho abrigou. Aconteceu no início de 1954, quando  os maiores nomes da música popular brasileira que foram para o Clubinho depois de terem participado do Festival da Velha Guarda – cujo projeto, como tantos outros, nascera nas mesas daquele subsolo, numa conversa entre Aracy de Almeida e o jornalista Flavio Porto. Na platéia, estavam o presidente do Clubinho, Clóvis Graciano, Inezita Barroso, Donga, João da Bahiana, Alfredinho do Flautim, Caninha, Patrício Teixeira, Bide da Flauta, Léo Vianna, Bororó, Mozart de Araújo, Mário Cabral e os jovens Baden Powell e Sidney dos Santos Silva, além de outros jornalistas, como Sérgio Porto e Lúcio Rangel:

"...Pixinguinha e Benedito Lacerda. Estão tocando juntos, em sax tenor e flauta, a grande melodia de 'Carinhoso'. Ambos beberam e estão no auge do sentimentalismo. Em volta, o silêncio paulista de homens e mulheres que sabem gostar da melhor música do Brasil. (...) Pixinguinha e Benedito estão tocando ao longo de uma madrugada paulista. Era bom que a noite não acabasse agora e fosse do tamanho da imensa lealdade dos homens dignos."

Para que essa e outras noites não acabem, ao menos na memória dos homens dignos, é preciso agir rapidamente. Entrar em contato com os paulistanos que tenham pedaços do passado a resgatar, reunir as informações, mobilizar a cidade e, principalmente dar àquele espaço uma destinação que o mantenha vivo e não uma sala trancada a sete chaves, como é atualmente.

Os arquitetos, cuja função é justamente construir ou adequar espaços às suas funções têm não apenas condição de realizar essa tarefa urgente. Tem sim, a obrigação de fazê-lo.

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