24 de fevereiro de 2022
Como é o pornô na Realidade Virtual?
O pornô e sua indústria multimilionária sempre foram drivers de inovação. Basta notar que o início do cinema, com os irmãos Lumiére e seus trens, data de 1895, enquanto os registros do primeiro filme pornô remontam a pouco depois, em 1908.
No desenvolvimento da internet, a indústria do pornô também esteve na vanguarda - os sites de vídeo adulto surgiram antes da popularização do Youtube.
E se trabalho, esportes, comércio, arte, jogos já estão dando as caras na Realidade Virtual e no metaverso, por que o sexo iria ficar de fora?
Nos Estados Unidos, os vídeos pornô são a terceira maior indústria de realidade virtual, logo atrás da NBA (National Basketball Association) e da NFL (National Football League).
Desde 2016, a indústria pornô tem produzido vídeos de Realidade Virtual mundo afora. A plataforma mais bem sucedida, Pornhub, chegou perto do milhão de views diários já em dezembro de 2016. (Por alguma razão não explicada, a audiência para esse tipo de conteúdo cresce muito no período do Natal).
Em 2020, diz a empresa, 130 milhões de pessoas visitaram diariamente a plataforma. Os adeptos do pornô não são a maioria, claro – segundo pesquisa realizada na França, para dar exemplo de um país desenvolvido e supostamente liberal, 77% dos entrevistados jamais teriam frequentado sites do gênero.
Ainda assim, os 23% restantes são muita gente. O Pornhub tem uma média de meio milhão de visualizações por dia em mais de 3.000 vídeos gratuitos de RV – um de seus diferenciais é justamente essa ampla oferta de filmes caseiros e sem custo. Uma salada mista estética, etária, de gênero e comportamentos capaz de atender nove entre dez preferências íntimas.
Pesquisa realizada com adultos norte-americanos entre 18 e 65 anos, pelo Kinsey Institute constatou que 18% assistem transmissões online; 13% jogam games de sexo explícito; 10% já assistiram vídeos pornô de Realidade Virtual; 9% já tiveram encontros sexuais virtuais (os chamados teledildônicos) e envolveram-se com RV pornografia (10%), enquanto 8% relataram ter feito sexo com chatbots – isto é com máquinas que simulam o comportamento humano em conversas online.
Para quem não se contenta em olhar apenas e completar o serviço por conta própria, digamos, há equipamentos de última geração. Por 289 dólares, é possível receber em casa e com toda discrição uma engenhoca dupla: Kiiroo Onix e Pearl 2. O pacote oferece um vibrador de ponto G com tecnologia sensível ao toque e um masturbador masculino que pode proporcionar até 140 vibrações por minuto, graças a um motor rotativo que realiza um movimento para cima e para baixo. O dispositivo pode ser controlado à distância, o que permite comandar, digamos, a alegria do parceiro. Combinado com os óculos de realidade virtual, dizem, simula muito fortemente um ato sexual. Demora quatro horas para carregar e oferece uma hora de uso contínuo. Haja energia!
A lista de plataformas que oferecem pornô de Realidade Virtual é grande. Além do Pornhub, estas três são bem conhecidas:
SexLikeReal – que reúne 50 estúdios de filmagem - é considerado o mais aclamado site de pornografia VR do momento. A assinatura mensal custa 29,99 dólares, mas há um sistema de pay per view, em que se pode comprar cada um dos 50 mil títulos disponíveis, um a um.
VR Bangers, conhecido por apresentar o maiores talentos da categoria, em filmes interativos de longa duração, desde 2010. Os preços variam, de acordo com o interesse do usuário – de um fee diário a um pacote para a vida toda, por 250 dólares.
Virtual Taboo, um site europeu dedicado aos mais variados fetiches. Um vídeo a 7,95 euros e a assinatura mensal por 12,95.
A Realidade Virtual tem lá suas particularidades: ao colocar o espectador diretamente na ação é preciso travar a câmara na perspectiva dele. Bem diferente de assistir a uma ação entre outras pessoas.
Além disso, como a câmara está literalmente grudada nos atores, o amadorismo desse pessoal,– para além da mecânica e de uma ação normalmente frenética e exaustiva – fica mais evidente.
Esta coluna passeou ligeiramente pelas produções. Existem alguns formatos já consagrados, apesar do pouco tempo de desenvolvimento, mas experimentos surgem a todo momento.
Vídeos de orgias, onde várias pessoas fazem sexo simultaneamente, funcionam particularmente bem quando o campo de visão deixa de estar restrito ao enquadramento da câmara.
Vídeos ‘POV’, como são chamadas as obras onde a câmara está no lugar da cabeça de um dos participantes - fazendo com que você tenha a curiosa sensação, ao olhar para baixo, de estar em um corpo que não é o seu, são de longe o formato mais comum.
O mais curioso, pareceu-nos, foram vídeos 360 em que moças desnudas parecem estar diretamente na sua frente. Elas apenas olham para a câmara, isto é, para o você e movem-se naturalmente, em silêncio. Coçam a cabeça, ajeitam o penteado, olham para o lado, em total silêncio.
A industria pornô é alvo de muitas críticas, em particular a de que a estética e a representação de como o sexo deve ser e como é o comportamento de homens e mulheres em cena criam um imaginário irreal e tóxico que contribui significativamente para a manutenção de uma sociedade machista e que objetifica as mulheres.
Nesse sentido, a Realidade Virtual não traz necessariamente boas respostas - ou propostas e, pelo contrário, abre uma série de novas problemáticas éticas e estéticas.
Mas como quase tudo nesse novo mundo, a sensação é de que estamos diante do inevitável e portanto a melhor estratégia é entender esse novo mundo e pensar de que maneira queremos, como sociedade, nos relacionar com essa nova tecnologia..