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20 de novembro de 2022

Paulo e Pedro no ENEMVerso

Andando pelas ruas de São Paulo, Pedro viu um outdoor com o anúncio do ENEMVerso, um projeto da universidade Estácio de Sá para atrair jovens para a faculdade e trabalhar competências para o ENEM.

Em casa, uma breve pesquisa, revelou que trata-se de um mundo no metaverso do Fortnite, composto por cinco ilhas GAIA (Ciências da Natureza); HUM NIA (Ciências Humanas); EXPRESSIVA (Linguagens e Códigos); EXATIDÃO (Matemática) e IDEÁRIA (Redação). Cada uma com um desafio próprio, numa mescla de competências manuais e intelectuais - de gamers e alunos. Se você tiver ambas e concluir o jogo de maneira satisfatória (com mais de 2500 pontos sobrando), recebe um voucher para concorrer a uma bolsa de 100% na universidade. Atenção - recebe um voucher para concorrer e não a bolsa, automaticamente.

É possível encarar essa possibilidade de duas maneiras - uma forma inovadora de atrair jovens que preferem jogar a estudar para a perspectiva de fazer um curso universitário, mas também, uma maneira criativa de ampliar a base de contatos da Estácio, que pertence a um dos maiores e mais poderosos grupos de educação privada do Brasil.

O Fortnite, já dissemos aqui, é um jogo online multijogador de sobrevivência, desenvolvido pela Epic Games e considerado, juntamente com Minecraft e Roblox, os três maiores 'games/metaverso'. São três milhões de jogadores onlines nesse momento, segundo o site PlayerCounter, sendo que 5.5% são brasileiros (ou, aproximadamente 165 mil pessoas).

Ao entrar no jogo, e antes de abrir o mundo criativo do ENEMVerso, Pedro aproveitou para tirar a poeira e tentar uma partida de Battle Royale, o 'jogo' que é o carro-chefe do Fortnite, um mata-mata com armas, explosivos e paragliders, onde 100 jogadores lutam até a morte, até que sobre apenas um. Com uma técnica invejável e pouco heróica de correr e se esconder, aliada a um pouco de sorte, Pedro venceu sua primeira Battle Royale da história. Paulo, que tem tanta intimidade com um controle de game quanto com um taco de golfe, ficou apenas olhando.

Animado com a vitória, tentamos entrar no ENEMVerso. O jogo é para apenas um estudante por vez, você não interage com outros jogadores na partida. Da tela inicial, acessamos as cinco ilhas.

Três delas trazem desafios que nada tÊm a ver com ENEM, Provas ou Educação de um modo geral. São circuitos que exigem habilidades gamers - pular na hora certa, desviar das plataformas que caem... algo que cabe inteiramente no rol de habilidades de quem vive nesse universo, mas supera as parcas habilidades de Pedro, que anda enferrujado. Paulo então? Nem tentou.

Outras duas ilhas, no entanto, trazem desafios no estilo Quiz e lembram as velhas revistas de palavras cruzadas. Expressiva e Exatidão trazem desafios de múltipla escolha, onde você escolhe a resposta certa com seu avatar. Questões de prova do ENEM que poderiam muito bem serem feitas em uma página web ou impressas e preenchidas a mão... a aventura no metaverso aqui, não traz nenhuma vantagem particular.

Tiramos nota 100 nos desafios de conhecimento, embora tenhamos gastado um bom tempo analisando alguns dos problemas de lógica - que fazia anos, nenhum dos dois encarava.
Já nos desafios de habilidade, tentamos um pouco e acabamos desistindo, cansados de tanto cair e recomeçar… Paulo está começando um mestrado em comunicação digital e Pedro não tem interesse em voltar para faculdade tão cedo, então deixamos as bolsas pra quem conseguir vencer o desafio.

Individualmente, as experiências não emocionam muito. De um lado, uma fórmula de joguinho tradicional e pouco inovadora, do outro, conteúdos oferecidos de maneira bastante simples e pouco interessante.

Ainda assim, a soma desses dois modelos - conectados com uma recompensa real, a chance de uma bolsa integral na faculdade, pode interessar aos estudantes e - no mínimo - comunicar com um público que *vive* dentro dessa plataforma.

Enquanto esperava o jogo carregar, Pedro falava com Paulo sobre Fortnite, interrompendo-o toda vez que Paulo se referia a plataforma como 'joguinho'.

- Parece um joguinho, dizia Paulo.

E é. Para quem não vive o Fortnite - suas histórias, temporadas, avatares e diversas criações - tudo parece um grande joguinho. Mas para as novas gerações de jogadores, esse metaverso é bem mais que isso. É ali que os jovens se encontram, assistem a shows como o do Emicida, desfilam em passarelas da moda e disputam partidas alucinadas até sobrar apenas um. Agora, aparentemente, também podem concorrer a bolsas na universidade.

Além disso, tanto os games quanto o ensino universitário privado são coisa de gente grande. No Brasil e no mundo. A indústria de videogames foi avaliada em 197 bilhões de dólares em 2022 e as estimativas prevêem que chegue aos 268 bilhões até 2025.

A Epic Games é uma corporação americana criada em 1991 por Tim Sweeney. Líder de videogame, desenvolveu vários jogos famosos como Fortnite, Gears of War e as séries Infinity Blade. O Fortnite tem mais de 350 milhões de contas e 2,5 bilhões de conexões de amigos.

A Yduqs, empresa controladora de universidades como a Estácio e o Ibmec tem mais de 17 mil funcionários e 1,3 milhão de alunos.

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