As melhorias no sistema de previdência rural na China estão tendo uma consequência imprevista e nefasta: a diminuição da capacidade cognitiva dos idosos. A constatação, publicada no IZA Journal of Labor Economics é de dois pesquisadores ligados à Universidade de Nova Iorque: o professor assistente de economia, Plamen Nikolov e Alan Adelman, que faz doutorado em economia. Ambos analisaram o Novo Esquema Rural de Pensões da China (NRPS) e a Pesquisa Longitudinal de Saúde e Aposentadoria da China (CHARLS), uma pesquisa que tem similar nos Estados Unidos e que testa diretamente a cognição com foco no estado mental e na memória episódica.
O NRPS surgiu em 2009 como resposta às mudanças demográficas da China. Dois anos antes, 11% da população chinesa já tinha 60 anos ou mais, representando 21% dos idosos do mundo todo. O programa combina uma aposentadoria básica financiada pelo governo central com contribuições individuais e financiamento mínimo equivalente por governos locais. No final de 2010, já atingia 23% das comunidades rurais. Dois anos mais tarde, alcançava mais de 60% das comunidades e metade dos moradores do campo.
O objetivo inicial da dupla de pesquisadores foi identificar quanto o programa interferia na transferência de renda entre filhos e pais, mas paralelamente, acabaram por constatar que ele também causava efeitos no declínio cognitivo. Com a aposentadoria rural, os idosos perdem a atenção dos cuidadores familiares, sem que estes sejam substituídos por mecanismos formais terceirizados – o que significa que os velhos tem mais dificuldades para lidar com doenças ou com a má nutrição.
O maior indicador de declínio cognitivo foi o atraso na recordação, uma medida amplamente implicada na pesquisa neurobiológica como um indicativo prévio de demência. O programa de aposentadoria teve mais efeitos negativos entre as mulheres, e Nikolov disse que os resultados apóiam a hipótese de que a falta de exercício mental prejudica as habilidades cognitivas.
"Os indivíduos que vivem nas áreas onde o programa foi implantado tem desempenho pior que os das áreas ainda não alcançadas pela aposentadoria oficial. "Nos quase 10 anos desde sua implementação”, afirma Nikolov, “o programa levou a um declínio no desempenho cognitivo em até quase um quinto de um desvio padrão nas medidas de memória que examinamos".
Resultados semelhantes foram identificados em países de renda mais alta, como Estados Unidos e União Europeia. Mas outro estudo indicou que a aposentadoria traz outros benefícios para a saúde, como melhorias no sono e redução do uso de álcool e tabaco.
"Para a cognição entre os idosos, parece que o efeito negativo no engajamento social superou em muito o efeito positivo do programa sobre nutrição e sono", disse Nikolov. "Engajamento social e conexão podem ser fatores mais poderosos para o desempenho cognitivo com a idade."
Nikolov disse que espera que a pesquisa ajude a criar novas políticas públicas que levem em conta o funcionamento cognitivo das gerações mais velhas durante a aposentadoria: "Esperamos que nossas descobertas influenciem os aposentados, mas talvez, o mais importante, influencie os formuladores de políticas nos países em desenvolvimento", disse Nikolov.
"Mostramos evidências robustas de que a aposentadoria tem benefícios importantes. Mas também tem custos consideráveis. Os prejuízos cognitivos entre os idosos, mesmo que não sejam debilitantes, causam perda de qualidade de vida e podem ter consequências negativas para o bem-estar. Os formuladores das políticas podem introduzir programas capazes de manter o engajamento social dos idosos e suas atividades mentais.”
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